Bushidô [武士道].
O termo Bushido é extremamente raro em textos antigos, e nem sequer aparecem nos textos famosos supostamente descrevendo esse código, como o Hagakure de Yamamoto Tsunetomo. Além disso, nunca existiu um único e unificado “código do samurai”, que todos os guerreiros japoneses aderiram ou eram mesmo cientes.
A primeira pessoa a popularizar o termo Bushido foi o escritor japonês Nitobe Inazō, que vivia na Filadélfia e casado com uma americana, em seu livroBushido: The Soul of Japan, 1899.
O Kojiki [古事记] “Registro de Assuntos Antigos” é a mais antiga crônica existente no Japão. Escrito em 712, ele contém passagens sobre Yamato Takeru, o filho do Imperador Keiko. Ele fornece uma indicação dos valores do Bushido, incluindo referências ao uso e à admiração da espada dos guerreiros japoneses.
No Nihongi Shoku [続日本纪], texto histórico imperial japonês de 797, no capítulo referente ao ano 721 encontra-se um uso precoce do termo “bushi” [武士] e uma referência ao ideal do guerreiro.
Uma das primeiras referências a “saburau” - um verbo que significa acompanhar uma pessoa de alto escalão - aparece em Kokin Wakashū [古今和歌集], primeira antologia de poemas imperial (no início do século X). Até o final do século XII, saburai tornou-se em grande parte sinônimo debushi, e intimamente é associado com o escalão superior e médio da classe guerreira.
O Conto dos Heike (平家 Heike Monogatari) compilado em 1371, que narra a luta entre os clãs Minamoto e Taira para o controle do Japão no final do século XII, um conflito conhecido como a Guerra Gempei, descreve claramente o ideal do guerreiro. Os guerreiros do Heike Monogatariserviram como modelos para a educação dos guerreiros das gerações posteriores.
O Japão viveu um período de relativa paz durante o período Sakoku (de 1600 a meados do século XIX), também chamada de “Pax Tokugawa”. Durante este período, a classe samurai desempenhou um papel central na administração e policiamento do país sob o xogunato Tokugawa .
Durante o período feudal do Xogunato dos Tokugawa, estabelecida no Japão em 1603 porTokugawa Ieyasu, o Bushidô ficou formalizado no Direito Feudal japonês.
A literatura Bushido desta época contém muita reflexão para uma classe de guerreiros que busca o caminho para uma aplicação dos princípios marciais em tempo de paz. A literatura desta época incluem: O Livro dos Cinco Anéis (Go Rin No Sho) de Miyamoto Musashi (1584-1645) e o livro chamado de Hagakure relatado por Yamamoto Tsunetomo para Tsuramoto Tashiro.
“Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho.” O Livro dos Cinco Anéis, Miyamoto Musashi.
A doutrina dos samurais possui um apelo mais intuitivo do que racional; a intuição baseada na sinceridade e na orientação moral nos leva de volta às raízes, à verdade das coisas, ao fundamental. Além disso, o Bushidô não é uma doutrina planejada, que seja no sentido de conter um argumento lógico.
O Hagakure [葉隐] que significa “Na sombra ou oculto nas folhas”, contém muitos dos ditos do período Sengoku da época de Nabeshima Naoshige (1537-1619) sobre Bushidô, a filosofia do início do século XVIII descrita por Yamamoto Tsunetomo (1659-1719), um samurai do neto de Naoshige, Mitsushige Nabeshima. O Hagakure foi compilada no século XVIII, mas foi mantido como uma espécie de “ensinamento secreto” do clã Nabeshima até o fim da era Tokugawa(1867).
O Hagakure permite a compreensão do Bushidô como o “Caminho da Morte”, ou viver como se a pessoa já estivesse morta, e que um samurai deve estar disposto a morrer a qualquer momento.
Sete virtudes do Bushidô:
.Retidão, Justiça (义 gi)
.Coragem, Bravura (勇, Yuu)
.Benevolência (仁 , jin)
.Respeito e Cortesia (礼, rei)
.Honestidade (诚, makoto)
.Honra e Glória (名誉, Meiyo)
.Dever e Lealdade (忠义, Chugi)
O Bushidô teve forte influencia do Zen-Budismo, tradição do Budismo do ramo Mahayana(“Grande Veículo”), doutrina dos ensinamentos de Buddha.
O zen-budismo e os samurais estiveram ligados desde o século XIII no Japão, quando os regentes Hojô (dos xoguns Ashikaga) descobriram que sua força e sua rejeição da vida tinham muito a oferecer ao guerreiro.
Do Zen-Budismo, os samurais adquiriram o não temor da morte, pois acreditavam na existência da vida após a morte: renasceriam no encargo de guerreiros em suas contínuas reencarnações.
“O Caminho do Samurai é encontrado na morte. Entre ela ou qualquer outra coisa, não há dúvida: a escolha deve ser a morte. Não é algo particularmente difícil. Seja determinado e avance.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.
“No geral, o Caminho do guerreiro é a aceitação resoluta da morte.” O Livro dos Cinco Anéis,Miyamoto Musashi.
As técnicas de meditação do Zen também foram usadas como um meio de limitar o temor.
“Se uma pessoa tem o coração preparado todas as manhãs e tardes para viver como seu corpo já estivesse morto, ela ganha liberdade no Caminho. Toda a sua vida será livre de culpa e ela terá sucesso em seu ofício.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.
Com os ensinamentos Zen, os samurais buscavam entrar em harmonia com o seu Eu interior. Odesapego era a base do pensamento samurai.
“Se um guerreiro não estiver desapegado à vida e à morte, não tem nenhuma utilidade. Com esse desapego, uma pessoa pode conseguir qualquer feito. As artes marciais e similares se relacionam a isso de tal forma que podem nos levar ao Caminho.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.
O Bushidô foi influenciado também pelos preceitos do Xintoísmo [神道], a espiritualidade tradicional do Japão. A palavra Shinto (“Caminho dos Deuses”) deriva de “shin” [神]= “deuses” ou “espíritos”, e “tō” [道] = “estudo” ou “caminho filosófico”.
Dentre os valores do Xintoísmo estão a lealdade, o patriotismo, e a reverência aos seus antepassados. Tal lealdade os samurais empenham ao imperador e ao seu daimyo ou senhor feudal.
Bujutsu [武術].
No “caminho do guerreiro”, a ‘técnica marcial’ é conhecida por Bujutsu(武術, técnica marcial), que corresponde ao conjunto das artes marciais tradicionais japonesas que faziam parte do treinamento militar dos bushi(guerreiros) para a guerra.
“É um princípio da arte da guerra que a pessoa não tema por sua vida e ataque. Se um dos oponentes fazem o mesmo, a luta fica empatada. Nesse caso, derrotar o oponente é uma questão de fé e destino.”Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.
O Bujutsu baseia-se em seis Artes Marciais: Ken-jutsu [剣術] – “Artes da Espada”; Sō-jutsu [創術] – “Artes da lança”; Kyū-jutsu [弓術] – “Artes do Arco e Flechas”; Ba-jutsu [馬術] – “Arte da Equitação”; Jū-jutsu [柔術] ”Arte Suave, de Defesa Desarmadas”; Teppō-jutsu [鉄砲術] – “Artes de Armas de Fogo” (a mais recente, introduzida com a chegada dos europeus no Japão no século XVI). Essas seis artes marciais juntamente com a Gunji-senryaku [军事戦略] (estratégia militar) eram denominadas “as Sete Artes Marciais” faziam parte do Bushidō [武士道] (O Caminho do Guerreiro) e, por lei, somente os bushis podiam praticá-las.
“É inútil aprender coisas como táticas militares. Se a pessoa não tem coragem para simplesmente fechar os olhos e avançar em direção ao inimigo.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.
Em 1868, quando terminou a Era Edo [江戸時代] e começou a Era Meiji [明治時代], o Governo Meiji [明治] redirecionou todas as Bujutsu [武術] (Artes Marciais) tradicionais, modificando-as para Budō [武道] (Vias Marciais).
Portanto, todas as Artes Marciais Japonesas, que até então eram conhecidas como KoryūBujutsu [古流武術] (“Escolas Antigas de Artes Marciais”) passaram a ser chamadas GendaiBudō [現代武道] (“Vias Marciais Modernas”). Assim, as artes marciais japonesas modernas (Judô, Aikidô, Karatê, Kendo, Jiu-Jitsu) são herdeiras do antigo Bushido e Bujutsu, mantendo parte de seus princípios e fundamentos marciais e filosóficos.
Referências
MUSASHI, Miyamoto. O livro dos Cinco Anéis. 2ª ed. São Paulo: Clio Editora, 2010.
TSUNETOMO, Yamamoto. Hagakure. 3ª ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário