sexta-feira, 2 de setembro de 2011

As origens das Artes Marciais



Pequeno texto retirado da monografia de André Luiz Teixeira, sobre a origem das artes-marciais, conforme conhecemos nos dias de hoje.

Este é um assunto onde até hoje se defrontam os estudiosos do tema. De certo estas técnicas se disseminaram em todo o Oriente, mas ao que parece nunca chegaram a ser praticadas na Europa, nem mesmo no litoral do Mediterrâneo, onde o contato com o Oriente estabeleceu-se desde antes da fundação do Império Romano. 

As descrições de métodos de luta praticados no Ocidente no passado, não fazem menção alguma às técnicas de luta em uso no leste da Índia. O boxe, de origem inglesa, e a luta livre greco-romana, embora fossem muito violentas, eram muito diferentes das lutas orientais, incluindo o que diz respeito ao objetivo a qual estas foram criadas, já que, tudo indica, ambas foram criadas para combate em exibições e competições e não com a finalidade de ser usada efetivamente como arma em campos de batalhas, ou como último recurso de defesa, caso se estivesse desarmado.

Não existem registros escritos precisos sobre a origem das artes marciais, porém há de se levar em conta que, os possíveis registros mais antigos da existência de técnicas elaboradas de combate, nos seja dado por duas pequenas peças babilônicas, datadas de entre 3000 e 2000 a.C. Ambas são representações de dois homens lutando, trocando golpes.
Não há nenhum outro indício de que as artes marciais tenham surgido no Crescente Fértil, mas muitas outras idéias importantes surgiram lá e de lá se espalharam para o Ocidente e Oriente. 

A cultura da Mesopotâmia era rica o suficiente para permitir a existência de muitos tipos de profissionais. Os artistas marciais precisavam de tempo para praticar, estudar e desenvolver suas técnica e a corte de um soberano seria o local mais provável de os encontrarmos. Na qualidade de guarda-costas de reis, de mercadores viajantes, ou guardas de templos, eles teriam tido tempo para fazer experiências e praticar, sem envolver-se em prolongados exercícios militares.

O certo é que a arte marcial que chegou ao Oriente vinda do Crescente Fértil era primitiva, e só na Índia e na China é que começou o desenvolvimento que culminou nos sofisticados sistemas que conhecemos hoje em dia. 

Porém, independente da existência de técnicas mais elaboradas ou sofisticadas (como o uso de torções, ou técnicas que envolvem até um complexo estudo biomecânico, que amplifica a potência dos golpes) é certo afirmamos que o homem sempre procurou criar meios de se defender e de utilizar o próprio corpo como arma de ataque, sendo este um instinto natural não só do homem, mas de todo ser vivo. Podemos observar as crianças, que desde bem novinhas, já se defendem e agridem, se utilizando de mordidas, tapas, arranhões etc e todo esse repertório de golpes não precisou ser ensinado, ou mesmo observado por estas crianças, elas apenas agiram com os seus instintos. E as artes marciais partem do estudo e desenvolvimentos básico desses movimentos mais simples, como citam Howard Reid e Michael Coucher:

“ Os ingredientes básicos que compõem uma arte marcial foram misturados, um por um, desde antes do início das civilizações. O básico: chutar, dar rasteira, arranhar. Morder, puxar cabelo, bater com a mão aberta, enfiar o dedo nos olhos, empurrar, puxar são movimentos naturalmente usado pelas crianças ao brincar. Certas técnicas mais sofisticadas, como a do soco, têm de ser aprendidas. As chaves, lançamentos e técnicas de ataque e defesa empregadas pelos artistas marciais são dotados de uma complexidade de ordem completamente diferentes ”. (Reid ,Coucher l,1983, p. 16)


Por fim, é sabido que de uma forma ou de outra, todos os povos conhecidos, desenvolveram suas próprias técnicas e estratégias de combates. As melhores continuaram e foram replicadas e melhoradas por outros povos, as menos eficientes sucumbiram nos próprios campos de batalha, acabando assim por serem esquecidas ou descartadas.
Concluímos então que, nenhuma técnica marcial conhecida nos dias de hoje, foi tecnicamente ineficiente, muito pelo contrário, se hoje ainda conhecemos estas técnicas e as praticamos, este é um sinal de que estas técnicas foram tão eficientes que passaram nos testes dos campos de batalha e mantiveram vivos seus praticantes, a ponto destes repassarem seu conhecimento técnico adiante. 


Obs: Este texto é parte integrante da pesquisa monográfica, apresentado para conclusão da Graduação em Historia, de André Luis Teixeira.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sensei, Senpai, Kōhai


No idioma japonês, há um conjunto de expressões de tratamento que servem para dirigir-se a pessoas ou referir-se a estas com respeito. Desta forma, nas artes marciais japonesas há inúmeras expressões:
  • Kohai – é o principiante, novato;
  • Dohai – companheiro do mesmo nível num Bugei;
  • Deshi, Montei, Seitô – aluno;
  • Gaijin – budoka ocidental;
  • Monjin – discípulo;
  • Meijin – mestre superior;
  • Juku-gashira – discípulo ao qual é transmitido todo o segredo;
  • Kyohan – instrutor, mestre;
  • Renshi – expert, de 4º a 6º Dan;
  • Kyoshi – perfeição interior, de 7º a 8º Dan;
  • Shihan – título superior, a mais alta graduação, aplicada de 9º a 10º Dan.

Em artes marciais japonesas, os termos mais conhecidos, usados e, de certa forma, importantes são os de Sensei, Senpai e Kōhai, sendo elementos essenciais nos relacionamentos traçados em um Dojô.

Sensei [先生] é empregado para referir-se a professores ou mestres de artes marciais que, em geral, seriam pessoas com altos níveis de conhecimento. Morihei Ueshiba (Aikidô); Jigoro Kano (Judô); e Kenji Tomiki (Aikidô e Judô); eram chamados respectivamente de O-Sensei (Grande Mestre) ou Ueshiba-sensei, Kano-sensei e Tomiki-sensei por seus alunos e fãs.

A expressão Sensei [先生] é escrita com dois ideogramas (Kanji [漢字]):

  • Sen (saki) [] - “Antes de”, “primeiro que”, “anterior”;
  • Sei (umareru) [] - “Nascer”, “viver”.

Desta forma, a tradução literal deste termo é “aquele que nasceu antes” ou, mais especificamente, “aquele que começou antes”.

É necessário que o Sensei tenha uma boa base de conhecimento sobre a arte que pratica. O Sensei deve ser capaz de providenciar respostas às solicitações, às dúvidas de seus alunos e corrigir seus erros.

Dar a sua opinião a uma pessoa e corrigir suas falhas são coisas importantes. É uma demonstração de boa vontade... Mas a maneira de executar isso é muito difícil.”
Yamamoto Tsunetomo, Hagakure.

Elogie pontos positivos da pessoa... talvez falando sobre suas próprias falhas, sem mencionar as dela, de modo que ela mesma as perceba... e sua opinião corrigirá as falhas dela.”
Yamamoto Tsunetomo, Hagakure.


No Japão, o termo Sensei não é exclusivo das artes marciais é também utilizado como título honorífico para designar doutores, professores, escritores, etc. Já Senpai e Kōhai são elementos essenciais dos relacionamentos na sociedade japonesa.

Em artes marciais japonesas, o termo Senpai geralmente se refere ao aluno mais experiente. Dele é esperado ajudar o Sensei com alunos novos.

Em um Dojô, o Sensei nomeia um ou mais aluno(s) antigo(s), com uma graduação considerável - chamados Senpai, para ser(em) responsável(eis) por células de dois ou três alunos principiantes (preferencialmente alunos iniciantes com a mesma graduação) - chamados Kōhai.

Senpai [先輩] – constituído pelos kanji (“Saki”) = antes, anterior , e (“ Tomogara”) = companheiro, colega - literalmente significa “aquele colega mais velho, mais antigo, o sênior”.

Kōhai [後輩] – constituído pelos kanji (“Ato”) = depois, posterior , e (“ Tomogara”) = companheiro, colega – literalmente significa “aquele colega mais novo, mais recente, o calouro”.

Este(s) Senpai deverá(ão) acompanhar o desenvolvimento do(s) Kōhai dentro do Dojô - sendo responsáveis (e responsabilizados) pelos seus avanços ou fracassos do seu grupo, ou seja, o Senpai responde diretamente ao Sensei a respeito dos progressos dos Kōhai que estão sob sua responsabilidade.

Mais do que uma simples divisão de respeito, o Senpai impõe uma relação com obrigações mútuas. Do Kōhai se espera o respeito e obediência ao seu Senpai, enquanto do Senpai se espera guiar, proteger e ensinar o seu Kōhai o melhor que puder. A relação senpai/kōhai geralmente dura enquanto as duas pessoas envolvidas se mantêm em contato.


Muitas vezes, um aprendiz não aprende as artes de seu mestre, apenas imita seus defeitos. Isso não tem valor... Se alguém percebe os pontos positivos de uma pessoa, esse alguém é um professor modelo para qualquer coisa.
Yamamoto Tsunetomo,Hagakure.


Com isto, os alunos antigos (Senpai) aprendem a ter responsabilidade e a entrar efetivamente no mundo da instrução - uma vez que se tornam responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos Kōhai sob sua supervisão. Os Senpai, assim, são orientadores ou instrutores de alunos novos (sendo sempre supervisionados pelo Sensei). O Sensei não chama a atenção dos Kōhai diretamente, chama o Senpai respectivo e este se encarrega de verificar o questionamento do Sensei.

Uma palavra de um samurai é mais firme que o metal.
Yamamoto Tsunetomo, Hagakure.


Os Senpai devem reservar parte do seu tempo para supervisionar o treino dos Kōhai, o que pode fazer, em alguns casos, com que os Senpai diminuam os seus próprios tempos de treino. O bom desempenho do Kōhai é fruto do trabalho de seu Senpai, e o deste, de seu Sensei.


É uma falta de fibra imaginar que você não conseguirá alcançar o nível de seus mestres. Os mestres são homens. Você também. Se acha que será inferior ao fazer algo, com rapidez, então, você estará no caminho de realmente ser inferior.
Yamamoto Tsunetomo, Hagakure.

Embora a moderação seja o padrão para todas as coisas, em assuntos militares um homem deve sempre se empenhar em superar os outros... seu coração se fortalecerá e ele se tornará incansável e corajoso.
Yamamoto Tsunetomo, Hagakure.


Dōhai
Um outro termo do japonês que em artes marciais é muito usado para pessoas de igual graduação é Dōhai [同輩], que significa , “igualdade de grau ou classificação”. Alguém que é dōhai para uma pessoa pode ser simultaneamente “kōhai” (ou seja, mais novo, menor grau), ou “senpai” (ou seja, mais velho, maior grau) para outra.


Ka
O ideograma “Ka” [], literalmente significa “lar”, mas no caso das artes marciais, significa: “especialista”, ou seja, tornou-se “o lar onde mora a arte”. O sufixo “Ka” [] não depende da cor da faixa ou do número de anos de prática. Uma pessoa que buscou o Dan [], mas negligenciou o estudo da arte que pratica, não passa de um mero “praticante da arte”, enquanto o que praticou e estudou a arte, talvez com menor graduação, tornou-se um “especialista” da sua arte.
Os especialistas de artes marciais também possuem termos específicos de acordo com a arte que praticam. Para tal, utiliza-se o sufixo “Ka” [] colocado em Judoka [柔道家],Jujutsuka[柔術家], Karateka [空手家], Aikidoka [合気道家], Kendoka [剣道家].

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dojô e Tatame


O Aikidô e o Jiu-jitsu, são artes marciais que possuem fundamentos e princípios semelhantes, pois são originários do jujutsu tradicional japonês.
O Dōjō [道場], do japonês Do [道], que significa “caminho” e Jo [場], que significa “um lugar”, é o “lugar do caminho” ou “lugar da iluminação” – é a sala usada para o treinamento das Artes Marciais.
O dojo ou dojô (pronuncia-se DÔ-JÔ) é o local onde se treinam artes marciais nipônicas. Muito mais do que uma simples área, o dojô deve ser respeitado como se fosse a casa dos praticantes. Por isso, é comum ver o praticante fazendo uma reverência antes de adentrar, tal como se faz nos lares japoneses.

“Se um homem não demonstra seu valor no tatame, ninguém é capaz de percebê-la no campo de batalha.”
Yamamoto Tsunetomo, Hagakure.

Dentre os maiores e mais tradicionais Dojôs modernos das artes marciais do Japão o Dai Nippon Butoku Kai (DNBK; 大日本武德会), Grande Sociedade das Artes Marciais do Japão, criada em 1895, em Kyoto, no Japão, sob a autoridade do Ministério da Educação. O objetivo foi o de padronizar as artes marciais de todo o país (Aikido, Aikijujutsu,Judo, jujutsu, Karatedo, Kendo). Esta foi a primeira organização oficial de artes marciais sancionada pelo governo do Japão. 


                                                                 Butokukai,1899.

A prática das artes marciais é realizada em um Tatame (em japonês: 畳; transl. tatami), que significava originariamente “dobrado e empilhado”. O tatame tradicional é feito de palha de arroz prensada revestida com esteira de junco e faixa preta lateral. É o piso das áreas secas de uma residência e serve de medida para os cômodos. No Japão, tatames eram originalmente um item de luxo quando a maioria das pessoas viviam em locais de chão batido.


Cada Dojô tem suas peculiaridades sobre etiquetas e protocolos, mas alguns são fundamentais:

  • Ao adentrar e ao sair do Dojo e do Tatame, fazer reverência. Quando estiver entrando, a reverência representa seu sentimento de solicitação, de humildade. Quando estiver saindo, representa seu sentimento de gratidão.
  • Ao início e ao término da prática a dois, fazer uma reverência ao parceiro de treino. 
  • Quando o Sensei estiver dando orientações, permanecer em Seiza (ajoelhado) e após o término, agradecer com uma reverência. Permanecer nessa posição denota humildade para receber os ensinamentos.
  • Não cruzar os braços ou arregassar as mangas dentro do Dojô. Estas atitudes são sinais de desavença.
  • Quando estiver no tatame, não apoiar as costas nas paredes. Essa regra existe tanto pela questão disciplinar, quanto pelos aspectos marciais.

Shingitai [心技体]

Era comum nos Dojô [道場] antigos de artes marciais japonesas haver um quadro na parede onde se podiam ler três caracteres: Shin [心], Gi [技] e Tai [体]. Estes três caracteres representavam as antigas diretivas mestras, ou seja, as características mais importantes que todos os Budokas [武道家] (artistas marciais) deveriam esforçar-se em aperfeiçoar:

  • Shin [心] (Kokoro) - Espírito, alma.
  • Gi [技] (Waza) - Técnica(s).
  • Tai [体] (Karada) - Condicionamento físico, manutenção física do corpo.

Shin-gi-tai aplica-se, assim, ao desenvolvimento do Budoka:


Shin = formação de caráter, domínio do corpo e da mente, filosofia;
Gi = técnicas, estratégia, formas de treino e conceitos;
Tai = conhecimento interior do corpo, preparação física.

Bushidô e Bujutsu

Bushidô [武士道].


O termo Bushido é extremamente raro em textos antigos, e nem sequer aparecem nos textos famosos supostamente descrevendo esse código, como o Hagakure de Yamamoto Tsunetomo. Além disso, nunca existiu um único e unificado “código do samurai”, que todos os guerreiros japoneses aderiram ou eram mesmo cientes.

A primeira pessoa a popularizar o termo Bushido foi o escritor japonês Nitobe Inazō, que vivia na Filadélfia e casado com uma americana, em seu livroBushido: The Soul of Japan, 1899.


O Kojiki [古事记] “Registro de Assuntos Antigos” é a mais antiga crônica existente no Japão. Escrito em 712, ele contém passagens sobre Yamato Takeru, o filho do Imperador Keiko. Ele fornece uma indicação dos valores do Bushido, incluindo referências ao uso e à admiração da espada dos guerreiros japoneses.

No Nihongi Shoku [続日本纪], texto histórico imperial japonês de 797, no capítulo referente ao ano 721 encontra-se um uso precoce do termo “bushi” [武士] e uma referência ao ideal do guerreiro.

Uma das primeiras referências a “saburau” - um verbo que significa acompanhar uma pessoa de alto escalão - aparece em Kokin Wakashū [古今和歌集], primeira antologia de poemas imperial (no início do século X). Até o final do século XII, saburai tornou-se em grande parte sinônimo debushi, e intimamente é associado com o escalão superior e médio da classe guerreira.

O Conto dos Heike (平家 Heike Monogatari) compilado em 1371, que narra a luta entre os clãs Minamoto e Taira para o controle do Japão no final do século XII, um conflito conhecido como a Guerra Gempei, descreve claramente o ideal do guerreiro. Os guerreiros do Heike Monogatariserviram como modelos para a educação dos guerreiros das gerações posteriores.

O Japão viveu um período de relativa paz durante o período Sakoku (de 1600 a meados do século XIX), também chamada de “Pax Tokugawa”. Durante este período, a classe samurai desempenhou um papel central na administração e policiamento do país sob o xogunato Tokugawa .

Durante o período feudal do Xogunato dos Tokugawa, estabelecida no Japão em 1603 porTokugawa Ieyasu, o Bushidô ficou formalizado no Direito Feudal japonês.

A literatura Bushido desta época contém muita reflexão para uma classe de guerreiros que busca o caminho para uma aplicação dos princípios marciais em tempo de paz. A literatura desta época incluem: O Livro dos Cinco Anéis (Go Rin No Sho) de Miyamoto Musashi (1584-1645) e o livro chamado de Hagakure relatado por Yamamoto Tsunetomo para Tsuramoto Tashiro.

“Os homens devem moldar seu caminho. A partir do momento em que você vir o caminho em tudo o que fizer, você se tornará o caminho.” O Livro dos Cinco Anéis, Miyamoto Musashi.

A doutrina dos samurais possui um apelo mais intuitivo do que racional; a intuição baseada na sinceridade e na orientação moral nos leva de volta às raízes, à verdade das coisas, ao fundamental. Além disso, o Bushidô não é uma doutrina planejada, que seja no sentido de conter um argumento lógico.

O Hagakure [葉隐] que significa “Na sombra ou oculto nas folhas”, contém muitos dos ditos do período Sengoku da época de Nabeshima Naoshige (1537-1619) sobre Bushidô, a filosofia do início do século XVIII descrita por Yamamoto Tsunetomo (1659-1719), um samurai do neto de Naoshige, Mitsushige Nabeshima. O Hagakure foi compilada no século XVIII, mas foi mantido como uma espécie de “ensinamento secreto” do clã Nabeshima até o fim da era Tokugawa(1867).

O Hagakure permite a compreensão do Bushidô como o “Caminho da Morte”, ou viver como se a pessoa já estivesse morta, e que um samurai deve estar disposto a morrer a qualquer momento.

Sete virtudes do Bushidô:

.Retidão, Justiça (义 gi)
.Coragem, Bravura (勇, Yuu)
.Benevolência (仁 , jin)
.Respeito e Cortesia (礼, rei)
.Honestidade (诚, makoto)
.Honra e Glória (名誉, Meiyo)
.Dever e Lealdade (忠义, Chugi)


O Bushidô teve forte influencia do Zen-Budismo, tradição do Budismo do ramo Mahayana(“Grande Veículo”), doutrina dos ensinamentos de Buddha.

O zen-budismo e os samurais estiveram ligados desde o século XIII no Japão, quando os regentes Hojô (dos xoguns Ashikaga) descobriram que sua força e sua rejeição da vida tinham muito a oferecer ao guerreiro.

Do Zen-Budismo, os samurais adquiriram o não temor da morte, pois acreditavam na existência da vida após a morte: renasceriam no encargo de guerreiros em suas contínuas reencarnações.

“O Caminho do Samurai é encontrado na morte. Entre ela ou qualquer outra coisa, não há dúvida: a escolha deve ser a morte. Não é algo particularmente difícil. Seja determinado e avance.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.

“No geral, o Caminho do guerreiro é a aceitação resoluta da morte.” O Livro dos Cinco Anéis,Miyamoto Musashi.

As técnicas de meditação do Zen também foram usadas como um meio de limitar o temor.

“Se uma pessoa tem o coração preparado todas as manhãs e tardes para viver como seu corpo já estivesse morto, ela ganha liberdade no Caminho. Toda a sua vida será livre de culpa e ela terá sucesso em seu ofício.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.

Com os ensinamentos Zen, os samurais buscavam entrar em harmonia com o seu Eu interior. Odesapego era a base do pensamento samurai.

“Se um guerreiro não estiver desapegado à vida e à morte, não tem nenhuma utilidade. Com esse desapego, uma pessoa pode conseguir qualquer feito. As artes marciais e similares se relacionam a isso de tal forma que podem nos levar ao Caminho.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.

O Bushidô foi influenciado também pelos preceitos do Xintoísmo [神道], a espiritualidade tradicional do Japão. A palavra Shinto (“Caminho dos Deuses”) deriva de “shin” [神]= “deuses” ou “espíritos”, e “tō” [道] = “estudo” ou “caminho filosófico”.

Dentre os valores do Xintoísmo estão a lealdade, o patriotismo, e a reverência aos seus antepassados. Tal lealdade os samurais empenham ao imperador e ao seu daimyo ou senhor feudal.



Bujutsu [武術].

No “caminho do guerreiro”, a ‘técnica marcial’ é conhecida por Bujutsu(武術, técnica marcial), que corresponde ao conjunto das artes marciais tradicionais japonesas que faziam parte do treinamento militar dos bushi(guerreiros) para a guerra.

“É um princípio da arte da guerra que a pessoa não tema por sua vida e ataque. Se um dos oponentes fazem o mesmo, a luta fica empatada. Nesse caso, derrotar o oponente é uma questão de fé e destino.”Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.



O Bujutsu baseia-se em seis Artes Marciais: Ken-jutsu [剣術] – “Artes da Espada”; Sō-jutsu [創術] – “Artes da lança”; Kyū-jutsu [弓術] – “Artes do Arco e Flechas”; Ba-jutsu [馬術] – “Arte da Equitação”; Jū-jutsu [柔術] ”Arte Suave, de Defesa Desarmadas”; Teppō-jutsu [鉄砲術] – “Artes de Armas de Fogo” (a mais recente, introduzida com a chegada dos europeus no Japão no século XVI). Essas seis artes marciais juntamente com a Gunji-senryaku [军事戦略] (estratégia militar) eram denominadas “as Sete Artes Marciais” faziam parte do Bushidō [武士道] (O Caminho do Guerreiro) e, por lei, somente os bushis podiam praticá-las.

“É inútil aprender coisas como táticas militares. Se a pessoa não tem coragem para simplesmente fechar os olhos e avançar em direção ao inimigo.” Hagakure, Yamamoto Tsunetomo.


Em 1868, quando terminou a Era Edo [江戸時代] e começou a Era Meiji [明治時代], o Governo Meiji [明治] redirecionou todas as Bujutsu [武術] (Artes Marciais) tradicionais, modificando-as para Budō [武道] (Vias Marciais).

Portanto, todas as Artes Marciais Japonesas, que até então eram conhecidas como KoryūBujutsu [古流武術] (“Escolas Antigas de Artes Marciais”) passaram a ser chamadas GendaiBudō [現代武道] (“Vias Marciais Modernas”). Assim, as artes marciais japonesas modernas (Judô, Aikidô, Karatê, Kendo, Jiu-Jitsu) são herdeiras do antigo Bushido e Bujutsu, mantendo parte de seus princípios e fundamentos marciais e filosóficos.

Referências

MUSASHI, Miyamoto. O livro dos Cinco Anéis. 2ª ed. São Paulo: Clio Editora, 2010.

TSUNETOMO, Yamamoto. Hagakure. 3ª ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Aikido: Síntese, Filosofia e Etimologia básica

Aikido (合 気 道) é uma arte marcial japonesa desenvolvida por Morihei Ueshiba (植 芝 盛 平, 14 de dezembro de 1883 - 26 abril de 1969) como uma síntese de seus estudos marciais, filosofia e crenças religiosas. Aikido pode ser traduzido como "o Caminho unificador da energia vital (com o outro)" ou como uma meta "o Caminho de espírito harmonioso". Ōsensei (" Grande Mestre "), como alguns praticantes de Aikido se referem a Morihei Ueshiba, desenvolveu uma arte que os praticantes pudessem usar para se defender e ao mesmo tempo, proteger o seu atacante de uma lesão através da união ( 合) com o movimento do atacante e redirecionamento da força do ataque em vez de combatê-la diretamente. O termo Aiki (合 気) refere-se ao princípio de artes marciais ou tática de “união” com os movimentos de um atacante para o objetivo de controlar suas ações com o mínimo esforço. Conceitualmente Aiki (合 気) procura entender o ritmo e a intenção do atacante para encontrar a posição ideal e o tempo certo para aplicar uma contra-técnica.

A palavra "aikido" é formada por três ideogramas kanji:

合- ai - união, de unificação, combinando, se encaixar
気- ki - espírito, energia, humor, moral
道- dō - como caminho, filosofia

Aiki ( 合 気) não aparece imediatamente na língua japonesa fora do âmbito do Budo. Isto levou a muitas interpretações possíveis da palavra. O kanji Ai (合) é usado principalmente em compostos para significar combinar, unir, juntar, reunir-se, sendo exemplos:

合同(combinado / unidos ),
合成(composição),结合( unir / combinar / unir-se ),
连 合(união / aliança / associação ),
统 合( combinar / unificar ),
合意(acordo mútuo).

Há também uma idéia de reciprocidade:
知り合う( para conhecer um ao outro ),
話し合い(discussão discussão / negociação ),
待ち合わせる( atender com hora marcada ).

Ki (気) é frequentemente usada para expressar algum sentimento, como em:
気 が する("eu sinto", como em termos de pensamento, mas com menos raciocínio cognitivo),
気持ち( sentimento / sensação), e
気 分(humor / moral).

Ela também é usada para significar a energia ou força, como:
电 気(electricidade) e,
磁 気(magnetismo).

O termo dō (道) conecta a prática do Aikido com o conceito filosófico de Tao, que pode ser encontrado em artes marciais, como Judô e Kendô, E nas artes mais pacíficas, como caligrafia japonesa ( Shodo ), arranjos florais ( Kado) e cerimônia do chá (Sado).

Portanto, do ponto de vista puramente linguístico, é possivel dizer que Aikido é uma “maneira de combinar as forças”.

Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Aikido

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aikido:Uma arte marcial que valoriza e prepara para a vida.

O Aikidô é uma Arte Marcial que cultiva a paz. A movimentação do aikidoka deve harmonizar-se a de seu oponente com a finalidade de obter o máximo de eficiência utilizando a força e o sentido do ataque em seu favor. As técnicas são aplicadas nos pontos estruturais e psicologicamente vulneráveis do corpo humano, como as articulações, os pontos dinâmicos e fracos, como o equilíbrio e os pontos vitais.
Porém estas definições redutoras e simples não explicam completamente o que Aikidô é de fato.
O Aikidô é uma arte marcial que busca coordenar e desenvolver atitudes eficientes da mente e do corpo, envolvendo habilidades físicas e mentais como a estratégia, a coordenação, a percepção, a disciplina e autoconfiança. Os ensinamentos contidos na prática do Aikidô superam a técnica ou o desejo de derrotar o oponente tornando-o mais que uma luta, mas de fato uma filosofia e um caminho percorrido através da arte marcial. É um caminho de aprofundamento filosoficamente oposto a tendência contemporânea que valoriza a exteriorização. Neste processo de introspecção é preciso trabalhar regularmente para que, entendendo a si, seja possível entender melhor o outro. É na construção de uma estrutura interna mediada pela prática da arte marcial que o Aikidô encontra significado e propósito.
Essa é a coerência que o Aikidô oferece a sociedade, ser uma arte marcial que valoriza e prepara para a vida.

Sensei Flávio Ferreira